TRADUÇÃO: GEORGIA SOMENZARI
REVISÃO: DIANA DA CRUZ
arte de Romy Lucas
Algum de vocês usa livros de "meditação diária"? Eu uso. Adoro
aqueles livros de autoajuda de bolso com textos curtinhos, geralmente com uma
página para cada dia, cheios de ideias positivas sobre nós mesmos, feitos para
nos ajudar a enfrentar melhor o dia. Tenho alguns, a maioria guardada no
banheiro. Às vezes, quando eu acordo com uma sensação boba e persistente de
culpa ou medo, cheio de ideias negativas sobre a vida - alguém se identifica? -
o que geralmente acontece antes mesmo de eu sair da cama ou trocar uma palavra
com alguém, gosto de pegar um desses livros e ver qual é a sugestão para o dia.
Em meu livro "Twenty-Four Hours a Day" [Vinte e Quatro Horas
por dia], (publicado pela Hazelden), o texto de 2 de outubro inclui esta parte:
"o que não vem do coração não chega ao coração. O que vem da experiência
pessoal e do desejo sincero de ajudar outra pessoa, chega ao coração". Eu
imediatamente associei ao livro.
Desde quando decidi, no verão passado, começar a trabalhar com o
livro, tenho que me certificar constantemente dos meus motivos. Alguém
próximo a mim me ajudou sugerindo, "é uma mensagem de esperança,
John". O Roger me deu um ótimo conselho. Ele disse, "fale com o
coração, JT, e ficará ótimo". Eu gostei, e gosto de pensar que essas são
minhas motivações, mas às vezes eu não sei se não é simplesmente o velho interesse próprio.
É um pouco dos dois, eu acho.
Porque alguém escreve um livro? Gela me perguntou no fim de semana:
"como se sente agora que tanta gente sabe tanto sobre você?".
Artistas hipotecam suas emoções. O que mais temos para vender? E, além disso,
eu venho falando para os fãs qual é a minha cor favorita desde 1981. Agora é só
um pouco mais interessante.
Obviamente, temos que querer "avançar". Depois da sessão de
autógrafos em Bath, eu pensei comigo mesmo, "eu poderia ter sido um
político". Se a pessoa não está preparara para falar sobre o mesmo assunto
por horas, então realmente não serve para vender livros para editoras
comerciais, pra começar. Tendo dito isso, eu realmente acredito que se ganha
alguma outra coisa quando se escreve suas memórias - apesar de não saber exatamente
o que é ainda... é uma miragem que começa a ficar um pouco mais nítida
lentamente, enquanto o processo continua. Não é muito diferente de começar uma
banda ou se envolver em qualquer tipo de atividade criativa - você tem que
acreditar que tem algo que vale a pena dizer ou compartilhar, mesmo que esse
algo seja "não tenho nada a dizer" - me lembro de ver um músico sem
teto pedindo esmola na 3rd Street em Santa Mônica. Na calçada, na frente dele,
havia uma placa de papelão onde ele tinha rabiscado "nada a dizer, mas
você pode me pagar mesmo assim". Achei que era a frase mais honesta que eu
tinha lido na última década e a roubei sem rodeios para uma música.
A verdade é que eu não sei
até onde isso tudo vai me levar, mas preciso continuar acreditando, e vocês,
pessoal, me dão confiança para continuar seguindo em frente Queremos que muita gente leia o livro, então temos que acreditar no seu
conteúdo.
arte de Romy Lucas
A pergunta mais frequente na turnê de lançamento do livro no Reino Unido
foi "por que agora?". Eu quase sempre repito a mesma resposta tripla.
Um: a morte do meu pai há quase três anos me levou a vender a casa onde eu cresci
o que me deixou com caixas de objetos e documentos antigos e um sentimento de
perda imenso. As lembranças pareciam estar escapando com uma velocidade
extraordinária e eu queria retardar esse vazamento. Dois, eu fui abordado por
um agente de Londres no começo do ano passado que me assegurou que se eu
estivesse interessado em escrever uma autobiografia, esse era o momento certo
para isso (ele achava que o mercado para biografias de rock estava aquecido). A
terceira razão foi, talvez, o fator surpresa em tudo isso. Quem poderia adivinhar
que a voz do Simon ia sumir no palco em Cannes em maio? Deixando-nos com quase
três meses de shows cancelados e eu de mãos atadas o verão inteiro. O diabo
sabe dessas oportunidades. Ligue para o agente! Vamos escrever aquele livro!
Um início bem inocente.
Saber o momento certo é tudo. Como baixista, eu sempre vou acreditar
nessa ideia. Talvez o que aconteceu tenha sido isto: meu coração foi aberto à
força pela morte do meu pai, e não há nada mais óbvio, honesto ou que mexa
tanto conosco como isso, e eu precisava fazer algo concreto com essa
experiência. Algo criativo e/ou artístico. Ta-da! Bem-vindos ao Ritmo do
Prazer. E agora estamos a alguns dias do lançamento do livro nos Estados
Unidos, esperando causar aqui o mesmo efeito impressionante que causamos no
Reino Unido - quem poderia imaginar que o livro chegaria ao 6º lugar na
lista dos mais vendidos do Sunday Times? Agora eu quero ter o mesmo
sucesso aqui, na minha pátria adotada. Talvez eu tenha que encarar que também
sou viciado em sucesso.
Ontem eu estava sentado na sala de TV, cuidando de um jetlag daqueles,
assistindo um dos programas de TV preferidos do meu pai, "O
Fugitivo". Eu tinha passado o dia todo com o coração apertado. E aí meus
sentimentos vieram à tona como náusea, jorrando horrivelmente pela minha
garganta sobre toda a mesa de centro. Percebi que ainda estou tão triste, que sinto
tantas saudades deles e dos velhos tempos, e que o processo ainda está bem vivo
e em andamento. Toda a intelectualização e racionalização que fiz até agora na
turnê do livro parecem não ter feito muita diferença. Eu ainda fico
paralisado de tristeza. Quando essa porcaria passa? Resposta: nunca, e
nem gostaríamos que fosse assim. São as nossas lembranças, o memorial, e o
motivo de registramos nossas memórias. Estou aprendendo com isso.
Por que colocar toda essa energia num livro quando eu poderia estar
compondo músicas? Com certeza toda a energia criativa disponível deveria ser
direcionada para a composição de músicas? Tudo o que posso dizer é que eu
precisava dessa catarse específica, desse processo específico. E, além disso,
livros são legais.
arte de Romy Lucas
Então, uma parada antes do lançamento do livro nos Estados Unidos:
obrigado por estarem comigo nessa jornada até agora. Parece que estamos indo mais
fundo, juntos. Eu não poderia ter previsto que vocês reagiriam tão bem ao livro
e sinto que o que fiz foi realmente justificado. Foi uma boa id
eia! Tivemos
ótimos momentos nesses eventos do livro e agora estou ansioso para algo
parecido desse lado do Atlântico. Fiquem ligados e mantenham-se informados
sobre os eventos e mídia com DD.com e @thisistherealJT. Até lá!
Pinturas - cortesia de Romy Lucas http://www.romylucas.nl/
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