TRADUÇÃO: DIANA DA CRUZ
Como baixista da banda
representante do estilo "new romantic" da cena pop no início dos anos
80, John Taylor do Duran Duran assimilou o seu amor por ritmos do funk com pop
progressivo em um estilo que desafiou as expectativas de uma banda pop -
enquanto críticos desajeitados procuravam evitar a new wave.
Duran Duran foi muito mais
do que uma banda de synth, porém, os gritos dos fãs em todo o mundo logo
silenciaram o clamor dos críticos. Cinco personalidades musicais da banda tinham
amadurecido, gerando uma banda pop híbrida com partes iguais de funk, hard rock
e new wave.
Os álbuns do Duran Duran são equilibrados. Para cada um dos grandes sucessos da banda na MTV,
você vai encontrar um lado muito sombrio do álbum dentro do repertório da
banda. Compare a saltitante dance-pop "Is there something I should
know?" e "Rio" com a melancolia de "The Chauffeur" e
"New Religion", e você vai começar a entender por que alguns músicos
têm usufruído desta dualidade de pop star e da inovação musical. É um trabalho monumental.
Nesta entrevista para o
Monitor, John fez uma reflexão sobre a história do Duran Duran e o seu trabalho que
perdura até os dias de hoje.
O
repertório do Duran Duran dos anos 80 apresenta alguns dos solos de baixo mais
grave e marcante da década. Como o seu estilo se desenvolveu?
Na verdade, acho que é uma
tentativa do menino branco inglês dar um pontapé inicial em um estilo do funk
sofisticado. Eu me tornei músico no punk rock, o estilo punk rock inglês era
muito diferente e não tão rápido como o punk americano, por isso havia uma
lentidão em tocar. E gosto de determinadas gravações de R&B, e
que coincidiu com meu encontro com Roger (Taylor, baterista). Originalmente, tocava guitarra na banda, mas quando conheci o Rog, começamos a trabalhar a sessão rítmica.
Na verdade, nas primeiras ‘demos’ com
Roger, eu tocava baixo e guitarra. Nós ainda estávamos procurando alguém que
tocasse baixo ou guitarra, o que viesse primeiro. Eu meio que não tinha o
domínio do baixo. Como um jovem garoto, sabia quem era o guitarrista e o
baixista, porque esses são instrumentos de grande "personalidade". Não estava realmente ciente do que o baixo fazia. Acho que o Chic,
Bernard Edwards e sua forma de tocar, foram os que realmente chamaram minha atenção:
Olhe que este é um instrumento legal, e você pode levar a música dessa
forma" Isso, coincidindo com Roger
sendo o primeiro bom baterista com quem eu tinha tocado e quem tinha um kit de
bateria completo.
De
acordo com o espírito do punk rock, também: vale tudo. Acho que a influência
vem especialmente na primeira gravação, como em "Planet Earth".
Sim, exatamente, porque você
tem essa coisa do proto-funk acontecendo, mas é evidente que surgiu do fundamental
– eu não quero dizer do "branco", mas do white background¹. (risos)
Levando
isso em consideração, eu o considero mais como um músico "intuitivo” do
que propriamente técnico. Isso é uma afirmação justa?
Muitíssimo.
Dado
o nível de musicalidade da banda, você ficou surpreso quando o foco tornou-se a
moda, em vez da composição e a habilidade?
Não me lembro de como eu me
sentia sobre isso naquela época. Tivemos mais sucesso do que poderíamos
suportar. Nós nunca pensamos em nós mesmos como sendo grandes músicos; nós
apenas fizemos o tinha de ser feito. Isso não aconteceu até que me mudei para Nova
York em 1984 e comecei a frequentar estúdios e comecei a sentir a atmosfera –
ao trabalhar no álbum do The Power Station comecei a pensar em mim como um
músico e me comparando com outros músicos. Não
de um jeito bom! (risos)
Até aquele momento, eu nunca
comparei minha maneira de tocar com qualquer outra pessoa, na verdade nunca
pensei sobre isso. Havia uma grande energia no final dos anos 70 na Grã-Bretanha.
A cena punk fez o que pôde e havia um monte de artistas buscando uma nova
tendência, algo maior que o punk. Todos na banda estavam preparados e só
colocamos em prática. Tínhamos conhecimento o suficiente. Era muito mais
instinto do que técnica, embora Andy representasse ser o mais técnico da banda.
Ele é o único que poderia dizer: "Bem, isso é o que estamos fazendo."
Este
novo ambiente criativo influenciou na mudança estética do Duran Duran em meados
e final dos anos 80?
Provavelmente, na verdade até
o final dos anos 80, eu tinha ficado muito autoconsciente sobre o meu estilo e
na verdade, me vi simplificar. Houve algumas gravações que participei no final dos
anos 80, onde estávamos todos conscientemente tentando encontrar um estilo novo.
Você não pode continuar fazendo a mesma coisa. Tínhamos algo bem definido
quando lançamos os álbuns, quem produziu os nossos três primeiros álbuns. Acho
que também não tínhamos escolha; não poderia tocar da maneira que havia tocado
com outros bateristas. Comecei a tocar com Steve Ferrone e não funcionou da
mesma forma como fazia com Roger e Tony Thompson. E sim, voltei a tocar com Roger
ao longo dos últimos anos, e o que eu fiz naquela época não soa clichê ou
ingênuo, apenas parece legal. Estamos muito conectados o que inspira confiança
um no outro. Vamos trabalhar duro até que os trechos estejam bons, e eu acho
que você tem que ter uma boa compreensão do seu parceiro que resulte nisso.
Durante
os anos após a saída de Roger e Andy, houve dois momentos de destaque tanto
artístico quanto comercial, sendo o último "The Wedding Album", o
qual foi o ponto partida estético para a banda. Será que esse álbum se conecta na sua essência como os outros álbuns do Duran?
Nós trabalhamos muito duro
para isso. Na verdade todos os esforços foram dedicados para uma canção. Era
"Ordinary World". Essa foi a primeira gravação que fizemos a qual foi
acompanhado de perto pelo A&R'd². Bem monitorado. Por causa dos álbuns
antecessores a esse, que havíamos desperdiçado muito dinheiro e que não fizeram
sucesso, então a gravadora disse: "Quer saber? Desta vez estamos apenas
dando-lhe essa quantia em dinheiro, então vocês voltam e tocam para nós o que
escreveram, e se gostarmos, daremos mais um pouco. Vai ser bom para vocês."(risos)
Então, eles nos deram um
pouco de dinheiro, fomos embora, então eles nos deram um pouco mais; fomos
embora novamente e retornamos com "Ordinary World", e eles disseram,
"Ok, ótimo, conseguimos um sucesso." Foi a primeira vez que tivemos
esse tipo de interação com um selo. E, em seguida, "Come Undone" foi
escrita, mas eu não participei do processo de composição. Eu estava em Los
Angeles no momento em que Nick, Simon (LeBon) e Warren (Cuccurullo) vieram com
aquele bebezinho. Essa música, somada a "Ordinary World", fez desse
álbum um grande sucesso.
Existe
alguma diferença na forma como você se relaciona aos projetos do Duran Duran
atualmente em relação aos álbuns anteriores?
Penso que nos últimos oito
ou nove anos aprendi a me garantir apenas com um instrumento de quatro cordas.
Há um monte de parafernálias ao redor. Tecladistas e guitarristas têm muitos
deles. Quero apenas manter toda a essência nas músicas. Nas primeiras sessões
de Astronaut, quando todo mundo estava ligando aquelas engenhocas, só apareci
com quatro cordas e essa foi a meu guia. Foi muito bom. Parecia comovente.
E foi o suficiente, para que eu voltasse a tocar com esses caras.
Com minha maneira de tocar, o estilo tem sido importante. Estilo é aquela coisa que
fica entre o instinto e a técnica. Se você não vai conscientemente atrás da
técnica – a qual eu jamais tive, nunca aprendi escalas - então o instinto vai
se transformar em estilo, com o tempo. Meu estilo tem sido moldado como
resultado das pessoas com quem toquei como, por exemplo: Roger, Andy e Nick, e
encontrar uma forma de se comunicar entre o que eles estão trazendo a tona.
Então você tem o guitarrista e o baterista que saem da banda, com quem definiu
seu estilo, de repente você se vê perdido, você sabe o que estou dizendo? Então
você tem que se adaptar. Retomei meu estilo, quando voltei a tocar com esses
caras, "Graças a Deus estou confortável!" E é por isso que não
preciso de nenhum truque. Tenho algumas parafernálias que levo comigo, mas não
preciso delas. Há algumas canções que uso delays e outras firulas, mas para
alcançar a minha essência eu não preciso de todos esses recursos, e me orgulho
disso. Penso que é o necessário.
Mas todo mundo é diferente e
todo mundo tem que encontrar uma maneira de se expressar. As minhas referências
são, em sua maior parte, tocar um instrumento de quatro cordas, sem quaisquer
efeitos, sendo Bernard Edwards, James
Jamerson ou Paul McCartney, seja ele quem for.
Em
turnê, vocês estão tocando mais hits ou também algo dos materiais mais obscuros?
Confesso
que o dia mais mágico foi quando começamos a ensaiar para a nossa turnê do
[nosso primeiro reencontro], e não tocamos os hits. Quero dizer, toquei
"The Reflex", mesmo quando estava na minha própria banda. Foi como
procurar em nosso repertório - músicas como "New Religion",
"(Waiting for the) Night Boat", as quais não tinha tocado em 20 anos
- isso foi extraordinário. Você sentia como se estivesse redescobrindo todo
esse sentimento, só por tocá-las, sabe? As pessoas falam sobre a memória
muscular e como você pode armazenar experiências em seus músculos, e quase
chegamos às lágrimas, porque os nossos dedos estão encontrando notas que não
encontrávamos em vinte anos. Foi simplesmente extraordinário, algo bonito de
verdade.
Informações
importantes:
- white-background: nesta situação John menciona o fato de dois garotos brancos (ele próprio e Roger) fazerem um som funk, o que não era muito comum naquela época.
- A&R'd:
Artists and Repertoire (A&R), em português Artistas e Repertório, é a
divisão de uma gravadora responsável pela pesquisa de talentos e
desenvolvimento artístico dos músicos. Atua igualmente como elo entre os
artistas e a gravadora.
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