sábado, 29 de março de 2014

BLOG DO JT

TEXTO ORIGINAL: http://www.duranduran.com/wordpress/2012/a-blog-from-jt-6/

TRADUÇÃO: GEORGIA SOMENZARI 

REVISÃO: DIANA DA CRUZ


arte de Romy Lucas


Algum de vocês usa livros de "meditação diária"? Eu uso. Adoro aqueles livros de autoajuda de bolso com textos curtinhos, geralmente com uma página para cada dia, cheios de ideias positivas sobre nós mesmos, feitos para nos ajudar a enfrentar melhor o dia. Tenho alguns, a maioria guardada no banheiro. Às vezes, quando eu acordo com uma sensação boba e persistente de culpa ou medo, cheio de ideias negativas sobre a vida - alguém se identifica? - o que geralmente acontece antes mesmo de eu sair da cama ou trocar uma palavra com alguém, gosto de pegar um desses livros e ver qual é a sugestão para o dia.

Em meu livro "Twenty-Four Hours a Day" [Vinte e Quatro Horas por dia], (publicado pela Hazelden), o texto de 2 de outubro inclui esta parte: "o que não vem do coração não chega ao coração. O que vem da experiência pessoal e do desejo sincero de ajudar outra pessoa, chega ao coração". Eu imediatamente associei ao livro.

Desde quando decidi, no verão passado, começar a trabalhar com o livro, tenho que me certificar constantemente dos meus motivos. Alguém próximo a mim me ajudou sugerindo, "é uma mensagem de esperança, John". O Roger me deu um ótimo conselho. Ele disse, "fale com o coração, JT, e ficará ótimo". Eu gostei, e gosto de pensar que essas são minhas motivações, mas às vezes eu não sei se não é simplesmente o velho interesse próprio.

É um pouco dos dois, eu acho.

Porque alguém escreve um livro? Gela me perguntou no fim de semana: "como se sente agora que tanta gente sabe tanto sobre você?". Artistas hipotecam suas emoções. O que mais temos para vender? E, além disso, eu venho falando para os fãs qual é a minha cor favorita desde 1981. Agora é só um pouco mais interessante.

Obviamente, temos que querer "avançar". Depois da sessão de autógrafos em Bath, eu pensei comigo mesmo, "eu poderia ter sido um político". Se a pessoa não está preparara para falar sobre o mesmo assunto por horas, então realmente não serve para vender livros para editoras comerciais, pra começar. Tendo dito isso, eu realmente acredito que se ganha alguma outra coisa quando se escreve suas memórias - apesar de não saber exatamente o que é ainda... é uma miragem que começa a ficar um pouco mais nítida lentamente, enquanto o processo continua. Não é muito diferente de começar uma banda ou se envolver em qualquer tipo de atividade criativa - você tem que acreditar que tem algo que vale a pena dizer ou compartilhar, mesmo que esse algo seja "não tenho nada a dizer" - me lembro de ver um músico sem teto pedindo esmola na 3rd Street em Santa Mônica. Na calçada, na frente dele, havia uma placa de papelão onde ele tinha rabiscado "nada a dizer, mas você pode me pagar mesmo assim". Achei que era a frase mais honesta que eu tinha lido na última década e a roubei sem rodeios para uma música. 

A verdade é que eu não sei até onde isso tudo vai me levar, mas preciso continuar acreditando, e vocês, pessoal, me dão confiança para continuar seguindo em frente Queremos que muita gente leia o livro, então temos que acreditar no seu conteúdo.


arte de Romy Lucas


A pergunta mais frequente na turnê de lançamento do livro no Reino Unido foi "por que agora?". Eu quase sempre repito a mesma resposta tripla. Um: a morte do meu pai há quase três anos me levou a vender a casa onde eu cresci o que me deixou com caixas de objetos e documentos antigos e um sentimento de perda imenso. As lembranças pareciam estar escapando com uma velocidade extraordinária e eu queria retardar esse vazamento. Dois, eu fui abordado por um agente de Londres no começo do ano passado que me assegurou que se eu estivesse interessado em escrever uma autobiografia, esse era o momento certo para isso (ele achava que o mercado para biografias de rock estava aquecido). A terceira razão foi, talvez, o fator surpresa em tudo isso. Quem poderia adivinhar que a voz do Simon ia sumir no palco em Cannes em maio? Deixando-nos com quase três meses de shows cancelados e eu de mãos atadas o verão inteiro. O diabo sabe dessas oportunidades. Ligue para o agente! Vamos escrever aquele livro!

Um início bem inocente.

Saber o momento certo é tudo. Como baixista, eu sempre vou acreditar nessa ideia. Talvez o que aconteceu tenha sido isto: meu coração foi aberto à força pela morte do meu pai, e não há nada mais óbvio, honesto ou que mexa tanto conosco como isso, e eu precisava fazer algo concreto com essa experiência. Algo criativo e/ou artístico. Ta-da! Bem-vindos ao Ritmo do Prazer. E agora estamos a alguns dias do lançamento do livro nos Estados Unidos, esperando causar aqui o mesmo efeito impressionante que causamos no Reino Unido - quem poderia imaginar que o livro chegaria ao 6º lugar na lista dos mais vendidos do Sunday Times? Agora eu quero ter o mesmo sucesso aqui, na minha pátria adotada. Talvez eu tenha que encarar que também sou viciado em sucesso.

Ontem eu estava sentado na sala de TV, cuidando de um jetlag daqueles, assistindo um dos programas de TV preferidos do meu pai, "O Fugitivo". Eu tinha passado o dia todo com o coração apertado. E aí meus sentimentos vieram à tona como náusea, jorrando horrivelmente pela minha garganta sobre toda a mesa de centro. Percebi que ainda estou tão triste, que sinto tantas saudades deles e dos velhos tempos, e que o processo ainda está bem vivo e em andamento. Toda a intelectualização e racionalização que fiz até agora na turnê do livro parecem não ter feito muita diferença. Eu ainda fico paralisado de tristeza. Quando essa porcaria passa? Resposta: nunca, e nem gostaríamos que fosse assim. São as nossas lembranças, o memorial, e o motivo de registramos nossas memórias. Estou aprendendo com isso.

Por que colocar toda essa energia num livro quando eu poderia estar compondo músicas? Com certeza toda a energia criativa disponível deveria ser direcionada para a composição de músicas? Tudo o que posso dizer é que eu precisava dessa catarse específica, desse processo específico. E, além disso, livros são legais.


arte de Romy Lucas


Então, uma parada antes do lançamento do livro nos Estados Unidos: obrigado por estarem comigo nessa jornada até agora. Parece que estamos indo mais fundo, juntos. Eu não poderia ter previsto que vocês reagiriam tão bem ao livro e sinto que o que fiz foi realmente justificado. Foi uma boa id
eia! Tivemos ótimos momentos nesses eventos do livro e agora estou ansioso para algo parecido desse lado do Atlântico. Fiquem ligados e mantenham-se informados sobre os eventos e mídia com DD.com e @thisistherealJT. Até lá!

Pinturas - cortesia de Romy Lucas http://www.romylucas.nl/




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