terça-feira, 26 de agosto de 2014

PREFÁCIO DE NICK RHODES - PARTE 02

TEXTO ORIGINAL: MAD WORLD BOOK 


AUTORES: LORI MAJEWSKI E JONATHAN BERNSTEIN

TRADUÇÃO: DIANA DA CRUZ






Em outras partes do mundo, a Austrália gerou o INXS, quem poderia conviver confortavelmente com as bandas britânicas. No entanto, nos Estados Unidos, o DNA musical tinha se metamorfoseado em formas diferentes. The Velvet Underground indiscutivelmente inventou a música alternativa. Os Stooges e New York Dolls semearam o inicio para uma nova onda. Patti Smith, Ramones, Richard Hell e os Voidoids, os B-52’s, Television, Blondie e Talking Heads eram artistas em evolução seminal, através de meados dos anos setenta a cena do CBGB¹, os dois últimos artistas os quais passaram a produzir alguns dos álbuns mais significativos do início dos anos oitenta.

Apesar das incursões realizadas pela cena de Nova York e algumas outras bandas isoladas, tais como Devo, a América ainda tinha uma propensão nacional a gravitar em torno do rock tradicional. Parecia improvável que artistas internacionais estavam quebrando o bloqueio da rádio na década de oitenta, mas a mudança estava a caminho sobre as ondas. Várias estações alternativas começaram a surgir. WLIR em Long Island e KROQ, em Los Angeles tornaram-se uma das primeiras. Elas desenvolveram um idioma de áudio contemporâneo em contraste com a velha guarda, mostrando o bravo e o novo. Isso proporcionou uma plataforma para as bandas aspirantes do Reino Unido, as quais se aventuravam pelo litoral dos EUA pela primeira vez de um sonho que romperia essa barreira. Como o formato de rádio cresceu exponencialmente, uma segunda transmutação ocorreu desta vez por meio da TV a cabo: o lançamento da MTV, um canal musical 24 horas no ar. Esses fatores contribuíram muito para uma mudança sísmica. A segunda invasão britânica estava em andamento nos Estados Unidos, e a força combinada dos seus novos sons romperam as portas.

No mundo da música de hoje, não são muito diferentes os fatores de elaboração das carreiras dos músicos aspirantes. Trata-se de um reflexo dos nossos tempos e atitudes sociais. Se não houvesse o reality show, e a Internet não tivesse se tornado um portal central em nossas vidas, então a música teria avançado de maneiras diferentes. Em minha opinião, enquanto na realidade a TV cria oportunidades para alguns, ela tira as oportunidades dos outros. A rádio comercial tem playlists cada vez mais curtas, e o que é transmitido para o público ouvir em muitos aspectos é mais conservador e estereotipado. As poucas grandes gravadoras remanescentes agora passam bem menos tempo e dinheiro no desenvolvimento dos artistas. Através da exposição maciça na TV, os artistas são rapidamente empurrados para os holofotes, frequentemente despreparados, e em seguida, geralmente explorados dentro dos limites de um espírito de sobrevivência. As consequências desta evolução estabeleceu uma cultura em que o público tem um déficit de atenção, com artistas cada vez mais efêmeros, achando mais difícil sustentar uma carreira.

Mas a maneira como consumimos música agora é provavelmente a maior mudança de todas. Tudo está disponível em todos os lugares, 24 horas por dia, on-line, existem opções incessantes, de cada período concebível e gênero. A dificuldade está em tomar uma decisão...

Claro, houve alguns outros desenvolvimentos espetaculares também, como a capacidade de criar uma canção em seu quarto com um programa básico de computador, em seguida, transmiti-lo on-line instantaneamente a uma audiência potencialmente imersa. Este tipo de liberdade abriu uma caixa de Pandora² para a geração digital e, sem dúvida, produziu alguns artistas notáveis ​​que rompem as fronteiras musicais, particularmente dentro dos gêneros urbanos da dance-music e o eletrônico.

Pessoalmente, eu sempre acompanhei o progresso e tenho pouco tempo para a nostalgia, mas é importante colocar tudo no contexto e apreciar as melhores coisas que cada período tem a oferecer. Cada banda tem sua própria história. Tivemos a sorte de crescer numa época em que a invenção, a experimentação, o estilo e a inovação foram aplaudidos. Era uma cultura em que à preferência era para aqueles que se destacassem na multidão, em vez de estarem nela. Artistas eram musicalmente aventureiros, menos impulsionados pelo comércio, e seu principal objetivo era criar uma música extraordinária. Se você passou pelo sucesso comercial, a fama era um subproduto, e não uma prioridade. Músicas singulares e excêntricas muitas vezes misturadas nas paradas tradicionais. O público foi de mente aberta, e havia uma verdadeira apreciação pelas ideias e a imaginação do momento.

A única coisa que permanece tão verdadeira atualmente como na década de oitenta: Embora os que fossem adolescentes ou estivessem com seus 20 anos tivessem um vocabulário musical limitado, estes continuam sendo a fonte chave para a mudança na música. Possivelmente, é a energia juvenil, a arrogância, uma crença cega de que estão certos. Ou talvez seja algo verdadeiramente intuitivo o qual aprenderam por estudarem bem de perto um microcosmo de músicas ecléticas do passado e do presente. Para nós, quando começamos o Duran Duran, estávamos absolutamente convencidos de que estávamos certos. Nosso som seria o futuro. Talvez essa seja a verdade para todos os artistas jovens. Se você não acreditar em si mesmo, ninguém mais o fará.
  
                                                                                                                   NR, Londres, 2013


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Informações importantes: 

1. CBGB = sigla do extinto clube em Nova York na década de 70, o qual voltou a funcionar em 2012. Saiba mais:  http://g1.globo.com/pop-arte/musica/noticia/2012/05/cbgb-clube-berco-do-punk-voltara-fazer-barulho-em-nova-york.html


2. Caixa de Pandora = Pandora foi enviada para Epimeteu, que já tinha sido alertado por seu irmão a não aceitar nada dos deuses. Ele, por “ver sempre depois”, agiu de forma precipitada e ficou encantado com a bela Pandora. Ela chegou trazendo uma caixa (não era necessariamente uma caixa, mas um jarro) fechada, um presente de casamento para Epimeteu.
Epimeteu pediu para Pandora não abrir caixa, mas, tomada pela curiosidade, não resistiu. Ao abrir a caixa na frente de seu marido, Pandora liberou todos os males que até hoje afligem a humanidade, como os desentendimentos, as guerras e as doenças. Ela ainda tentou fechar a caixa, mas só conseguiu prender a esperança.

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