sexta-feira, 31 de outubro de 2014

Entrevista de John Taylor para o site da PEAVEY

TEXTO ORIGINAL: http://peavey.com/monitor/sub2.cfm?id=3

TRADUÇÃO: DIANA DA CRUZ



Como baixista da banda representante do estilo "new romantic" da cena pop no início dos anos 80, John Taylor do Duran Duran assimilou o seu amor por ritmos do funk com pop progressivo em um estilo que desafiou as expectativas de uma banda pop - enquanto críticos desajeitados procuravam evitar a new wave.

Duran Duran foi muito mais do que uma banda de synth, porém, os gritos dos fãs em todo o mundo logo silenciaram o clamor dos críticos. Cinco personalidades musicais da banda tinham amadurecido, gerando uma banda pop híbrida com partes iguais de funk, hard rock e new wave.
Os álbuns do Duran Duran são equilibrados. Para cada um dos grandes sucessos da banda na MTV, você vai encontrar um lado muito sombrio do álbum dentro do repertório da banda. Compare a saltitante dance-pop "Is there something I should know?" e "Rio" com a melancolia de "The Chauffeur" e "New Religion", e você vai começar a entender por que alguns músicos têm usufruído desta dualidade de pop star e da inovação musical. É um trabalho monumental.
Nesta entrevista para o Monitor, John fez uma reflexão sobre a história do Duran Duran e o seu trabalho que perdura até os dias de hoje.


O repertório do Duran Duran dos anos 80 apresenta alguns dos solos de baixo mais grave e marcante da década. Como o seu estilo se desenvolveu?

Na verdade, acho que é uma tentativa do menino branco inglês dar um pontapé inicial em um estilo do funk sofisticado. Eu me tornei músico no punk rock, o estilo punk rock inglês era muito diferente e não tão rápido como o punk americano, por isso havia uma lentidão em tocar. E gosto de determinadas gravações de R&B, e que coincidiu com meu encontro com Roger (Taylor, baterista). Originalmente, tocava guitarra na banda, mas quando conheci o Rog, começamos a trabalhar a sessão rítmica. Na verdade, nas primeiras ‘demos’ com Roger, eu tocava baixo e guitarra. Nós ainda estávamos procurando alguém que tocasse baixo ou guitarra, o que viesse primeiro. Eu meio que não tinha o domínio do baixo. Como um jovem garoto, sabia quem era o guitarrista e o baixista, porque esses são instrumentos de grande "personalidade". Não estava realmente ciente do que o baixo fazia. Acho que o Chic, Bernard Edwards e sua forma de tocar, foram os que realmente chamaram minha atenção: Olhe que este é um instrumento legal, e você pode levar a música dessa forma"  Isso, coincidindo com Roger sendo o primeiro bom baterista com quem eu tinha tocado e quem tinha um kit de bateria completo.


De acordo com o espírito do punk rock, também: vale tudo. Acho que a influência vem especialmente na primeira gravação, como em "Planet Earth".

Sim, exatamente, porque você tem essa coisa do proto-funk acontecendo, mas é evidente que surgiu do fundamental – eu não quero dizer do "branco", mas do white background¹. (risos)


Levando isso em consideração, eu o considero mais como um músico "intuitivo” do que propriamente técnico. Isso é uma afirmação justa?

Muitíssimo.


Dado o nível de musicalidade da banda, você ficou surpreso quando o foco tornou-se a moda, em vez da composição e a habilidade?

Não me lembro de como eu me sentia sobre isso naquela época. Tivemos mais sucesso do que poderíamos suportar. Nós nunca pensamos em nós mesmos como sendo grandes músicos; nós apenas fizemos o tinha de ser feito. Isso não aconteceu até que me mudei para Nova York em 1984 e comecei a frequentar estúdios e comecei a sentir a atmosfera – ao trabalhar no álbum do The Power Station comecei a pensar em mim como um músico e me comparando com outros músicos. Não de um jeito bom! (risos)
Até aquele momento, eu nunca comparei minha maneira de tocar com qualquer outra pessoa, na verdade nunca pensei sobre isso. Havia uma grande energia no final dos anos 70 na Grã-Bretanha. A cena punk fez o que pôde e havia um monte de artistas buscando uma nova tendência, algo maior que o punk. Todos na banda estavam preparados e só colocamos em prática. Tínhamos conhecimento o suficiente. Era muito mais instinto do que técnica, embora Andy representasse ser o mais técnico da banda. Ele é o único que poderia dizer: "Bem, isso é o que estamos fazendo."


Este novo ambiente criativo influenciou na mudança estética do Duran Duran em meados e final dos anos 80?

Provavelmente, na verdade até o final dos anos 80, eu tinha ficado muito autoconsciente sobre o meu estilo e na verdade, me vi simplificar. Houve algumas gravações que participei no final dos anos 80, onde estávamos todos conscientemente tentando encontrar um estilo novo. Você não pode continuar fazendo a mesma coisa. Tínhamos algo bem definido quando lançamos os álbuns, quem produziu os nossos três primeiros álbuns. Acho que também não tínhamos escolha; não poderia tocar da maneira que havia tocado com outros bateristas. Comecei a tocar com Steve Ferrone e não funcionou da mesma forma como fazia com Roger e Tony Thompson. E sim, voltei a tocar com Roger ao longo dos últimos anos, e o que eu fiz naquela época não soa clichê ou ingênuo, apenas parece legal. Estamos muito conectados o que inspira confiança um no outro. Vamos trabalhar duro até que os trechos estejam bons, e eu acho que você tem que ter uma boa compreensão do seu parceiro que resulte nisso.


Durante os anos após a saída de Roger e Andy, houve dois momentos de destaque tanto artístico quanto comercial, sendo o último "The Wedding Album", o qual foi o ponto partida estético para a banda. Será que esse álbum se conecta na sua essência como os outros álbuns do Duran?

Nós trabalhamos muito duro para isso. Na verdade todos os esforços foram dedicados para uma canção. Era "Ordinary World". Essa foi a primeira gravação que fizemos a qual foi acompanhado de perto pelo A&R'd². Bem monitorado. Por causa dos álbuns antecessores a esse, que havíamos desperdiçado muito dinheiro e que não fizeram sucesso, então a gravadora disse: "Quer saber? Desta vez estamos apenas dando-lhe essa quantia em dinheiro, então vocês voltam e tocam para nós o que escreveram, e se gostarmos, daremos mais um pouco. Vai ser bom para vocês."(risos)

Então, eles nos deram um pouco de dinheiro, fomos embora, então eles nos deram um pouco mais; fomos embora novamente e retornamos com "Ordinary World", e eles disseram, "Ok, ótimo, conseguimos um sucesso." Foi a primeira vez que tivemos esse tipo de interação com um selo. E, em seguida, "Come Undone" foi escrita, mas eu não participei do processo de composição. Eu estava em Los Angeles no momento em que Nick, Simon (LeBon) e Warren (Cuccurullo) vieram com aquele bebezinho. Essa música, somada a "Ordinary World", fez desse álbum um grande sucesso.


Existe alguma diferença na forma como você se relaciona aos projetos do Duran Duran atualmente em relação aos álbuns anteriores?

Penso que nos últimos oito ou nove anos aprendi a me garantir apenas com um instrumento de quatro cordas. Há um monte de parafernálias ao redor. Tecladistas e guitarristas têm muitos deles. Quero apenas manter toda a essência nas músicas. Nas primeiras sessões de Astronaut, quando todo mundo estava ligando aquelas engenhocas, só apareci com quatro cordas e essa foi a meu guia. Foi muito bom. Parecia comovente. E foi o suficiente, para que eu voltasse a tocar com esses caras. Com minha maneira de tocar, o estilo tem sido importante. Estilo é aquela coisa que fica entre o instinto e a técnica. Se você não vai conscientemente atrás da técnica – a qual eu jamais tive, nunca aprendi escalas - então o instinto vai se transformar em estilo, com o tempo. Meu estilo tem sido moldado como resultado das pessoas com quem toquei como, por exemplo: Roger, Andy e Nick, e encontrar uma forma de se comunicar entre o que eles estão trazendo a tona. Então você tem o guitarrista e o baterista que saem da banda, com quem definiu seu estilo, de repente você se vê perdido, você sabe o que estou dizendo? Então você tem que se adaptar. Retomei meu estilo, quando voltei a tocar com esses caras, "Graças a Deus estou confortável!" E é por isso que não preciso de nenhum truque. Tenho algumas parafernálias que levo comigo, mas não preciso delas. Há algumas canções que uso delays e outras firulas, mas para alcançar a minha essência eu não preciso de todos esses recursos, e me orgulho disso. Penso que é o necessário.

Mas todo mundo é diferente e todo mundo tem que encontrar uma maneira de se expressar. As minhas referências são, em sua maior parte, tocar um instrumento de quatro cordas, sem quaisquer efeitos, sendo Bernard Edwards, James Jamerson ou Paul McCartney, seja ele quem for.


Em turnê, vocês estão tocando mais hits ou também algo dos materiais mais obscuros?

Confesso que o dia mais mágico foi quando começamos a ensaiar para a nossa turnê do [nosso primeiro reencontro], e não tocamos os hits. Quero dizer, toquei "The Reflex", mesmo quando estava na minha própria banda. Foi como procurar em nosso repertório - músicas como "New Religion", "(Waiting for the) Night Boat", as quais não tinha tocado em 20 anos - isso foi extraordinário. Você sentia como se estivesse redescobrindo todo esse sentimento, só por tocá-las, sabe? As pessoas falam sobre a memória muscular e como você pode armazenar experiências em seus músculos, e quase chegamos às lágrimas, porque os nossos dedos estão encontrando notas que não encontrávamos em vinte anos. Foi simplesmente extraordinário, algo bonito de verdade.



Informações importantes:

  1. white-background: nesta situação John menciona o fato de dois garotos brancos (ele próprio e Roger) fazerem um som funk, o que não era muito comum naquela época.
  2. A&R'd: Artists and Repertoire (A&R), em português Artistas e Repertório, é a divisão de uma gravadora responsável pela pesquisa de talentos e desenvolvimento artístico dos músicos. Atua igualmente como elo entre os artistas e a gravadora.

Nenhum comentário:

Postar um comentário